2.3 Quais são as vantagens e desvantagens da testagem para detecção de TB infecção?

A testagem para detecção de TB infecção será benéfica do ponto de vista individual e programático se identificar as pessoas que mais se beneficiarão do TPT. Do ponto de vista programático, os investimentos na capacidade de testagem da TB infecção serão justificados se resultarem em maior eficácia e eficiência no uso de recursos para a oferta do TPT, maior aceitação e aumento da cobertura. Isso inclui não apenas o custo dos medicamentos, mas também os recursos humanos para fazer a avaliação médica, dar início ao tratamento e fazer o seguimento do TPT. A testagem também evita gastos desnecessários com medicamentos ou eventos adversos em pessoas que recebem tratamento desnecessariamente. Portanto, a testagem para detecção de TB infecção antes do TPT é uma forma valiosa de aumentar a relação risco-benefício do TPT.

Demonstrou-se que a adoção do TPT reduz o risco de desenvolver TB doença entre PVHA, sobretudo nas que têm um resultado positivo na PT. A revisão sistemática atualizada realizada durante a elaboração das diretrizes da OMS para o gerenciamento programático do TPT em 2018 demonstrou claramente os benefícios de testagem sistemática e tratamento da TB infecção entre PVHA em termos de prevalência da TB infecção, risco de progressão para a TB doença e incidência da TB doença em comparação com a população em geral.

Descobriu-se que os contatos intradomiciliares apresentam um risco muito maior de progressão para a TB doença do que a população em geral. O maior risco de progressão para doença ativa estava entre os contatos menores de 5 anos; em vista disso, fez-se uma forte recomendação de iniciar o TPT independentemente da disponibilidade do teste de TB infecção. Além disso, em outras faixas etárias, o TPT foi objeto de uma recomendação condicional para contatos intradomiciliares após uma comparação de riscos e benefícios. Entre os contatos intradomiciliares com idade acima de 5 anos, o teste para detecção de TB infecção antes do início do TPT pode ser recomendável, embora o tratamento tenha sido considerado justificável mesmo sem o teste (19).

Nos outros grupos de risco, as evidências dos benefícios do teste sistemático de TB infecção e do TPT apresentaram variação. Os benefícios claramente superaram os riscos entre pessoas que estão iniciando o tratamento com anti-TNF, fazendo diálise, preparando-se para um transplante de órgão ou hematológico ou que tenham silicose. Em outros grupos de risco, o contraste entre riscos e benefícios foi menos claro. Portanto, a priorização de grupos-alvo para testagem sistemática e TPT com base no risco individual e no contexto local e nacional foi considerada aceitável para pessoas com TB infecção e para as principais partes interessadas, inclusive médicos, enfermeiros e gerentes de programas.

Em resumo, o TPT proporcionará os maiores benefícios individuais à saúde se for administrado para pessoas com características clínicas ou epidemiológicas que aumentem o risco de TB doença. Entre as pessoas com um fator de risco específico, o benefício será maximizado ao se priorizar o TPT para pessoas com resultado positivo para TB infecção. Entretanto, o teste não é pré-requisito para contatos de pacientes com TB com menos de 5 anos de idade e PVHA. Por isso, a testagem para detecção da TB infecção está associada a vantagens significativas para as pessoas.

A desvantagem mais importante dessa testagem é a possibilidade de atrasos significativos entre a identificação inicial de uma pessoa com risco de desenvolver TB doença e o início do TPT. Entre contatos, principalmente crianças pequenas (19) e PVHA, a TB doença pode se desenvolver rapidamente após a exposição e a TB infecção. Entre todos os contatos, o período de maior risco de progressão para a TB doença são os primeiros 6 meses após a exposição (4, 5). Portanto, o início imediato do TPT é crucial para prevenir a TB doença. A testagem de TB infecção pode contribuir para atrasos consideráveis, seja devido à falta de pessoal capacitado para aplicar o teste ou ler o resultado do teste cutâneo, seja devido a atrasos no processamento laboratorial e na comunicação dos resultados do IGRA. Como os resultados do IGRA devem ser liberados em 24 a 36 horas (embora possa haver atrasos adicionais devido ao transporte das amostras e à testagem em lotes) e os de PT ou TBST, em 72 horas, a testagem para detecção de TB infecção não deve atrasar o início do TPT em mais de 3 dias após a identificação inicial.

O segundo possível desafio relativo à testagem é o maior ônus para os pacientes, incluindo desconforto, medo de injeções ou de coleta de sangue e a necessidade de mais consultas antes de iniciar o TPT, com o potencial de custos associados para o paciente, tempo, atrasos e perdas resultantes da cascata de cuidados. No entanto, a organização efetiva dos serviços de saúde pode minimizar as perdas relacionadas a testes na cascata de cuidados (15, 20), tanto em países de alta renda quanto em países de baixa e média renda.

Resultados falso-negativos e indeterminados de TB infecção são um terceiro desafio em potencial (21). Esses resultados de teste são mais frequentes em pessoas imunocomprometidas. Entretanto, os altos riscos relativos de desenvolver TB doença em pessoas com resultado positivo para TB infecção em comparação com pessoas que têm resultado negativo sugerem que os resultados falso-negativos não são determinantes significativos de desfechos importantes para o paciente. Além disso, algumas pessoas em risco (por exemplo, contatos idosos) podem apresentar resultado negativo, mas contrair a infecção posteriormente ou apresentar a infecção pouco tempo depois; nesses casos, não dar o TPT seria uma oportunidade perdida de proteger essas pessoas.

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